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Clevelândia do Norte: aqui começa o Brasil
Notícias
Publicado em 01/12/2023

Vivaldo José Breternitz 

 

Recentemente estivemos em Clevelândia do Norte, um distrito do município de Oiapoque, às margens do rio de mesmo nome, no estado do Amapá.

Do outro lado do rio, está a Guiana Francesa, um departamento (algo como um estado) da França – essa situação de fronteira faz com que os locais afirmem o que está no título desse artigo: aqui começa o Brasil. Clevelândia fica a 630 quilômetros de Macapá, a capital do estado; 120 quilômetros da estrada não são pavimentados e ficam praticamente intransitáveis no período de chuvas – às vezes são necessárias 17 horas para a viagem entre esses locais.    

A área foi objeto de disputa com a França, situação que foi resolvida em 1900, ao final de um processo de arbitragem conduzido pela Suíça. Visando ocupar a região, o governo federal criou em 1922 uma colônia agrícola, que recebeu migrantes vindos principalmente de nosso Nordeste; o projeto fracassou e área foi retomada pela selva.

A distância dos grandes centros e o acesso possível apenas pelo rio, levou o presidente Artur Bernardes a criar ali uma colônia penal, para onde foram enviados seus adversários, em especial os ligados a movimentos anarquistas e militares contrários à postura oligarquista do governo – foram quase mil presos, centenas dos quais morreram, vítimas de doenças e do clima inclemente.

Em 1940 o Exército Brasileiro instalou uma pequena guarnição no local; logo a seguir, em função da 2ª Guerra Mundial, um batalhão foi ali instalado – ao final dela, a guarnição foi novamente reduzida.

Após diversas alterações de nome e subordinação, uma subunidade do 34º Batalhão de Infantaria de Selva (34º BIS), guarnece o local – é a Companhia Especial de Fronteira, que é o principal fator de presença do Estado na região.

Esses militares têm como missão vigiar a fronteira, preocupando-se também com crimes como tráfico de drogas e armas, garimpo e desmatamento ilegais e outros crimes característicos de zonas fronteiriças. Para isso o Exército articula-se com outros órgãos federais e estaduais (cuja presença é muito pequena, no entanto) e com militares franceses da Legião Estrangeira, estacionados na Guiana.

A vida ali é muito dura: apenas recentemente água tratada tornou-se disponível, não há telefonia móvel, o calor e a chuva são intensos, a logística é muito difícil e doenças como a malária estão muito presentes. O 34º BIS ainda mantém um Pelotão Especial de Fronteira e um Destacamento Especial de Fronteira em Tiriós e Vila Brasil, localidades ainda menores que Clevelândia e com condições de vida ainda mais duras, em termos de disponibilidade de energia elétrica, aquartelamento etc.

Como curiosidade, cabe registrar que a área sob responsabilidade do Batalhão é de cerca de 260 mil quilômetros quadrados, maior que a área do Reino Unido e que são 730 quilômetros de fronteira Brasil-Guiana Francesa – o Brasil é o país com quem a França tem maior fronteira!

Apesar de todas essas dificuldades, os brasileiros que servem nesses locais trabalham muito, diuturnamente, imbuídos do espírito de proteger onde começa o Brasil, vivificar a área de fronteira e integrar a Amazônia e seus habitantes à nossa sociedade.  

 

 

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