Chinês condenado por espionagem industrial
Vivaldo José Breternitz (*)
Notícias a respeito de espionagem industrial raramente chegam à mídia, em função do interesse dos envolvidos em não divulgarem informações a respeito de fatos desse tipo.
Agora, acontece uma exceção: Xiaolang Zhang, ex-funcionário da Apple, acaba de ser condenado a 120 dias de prisão, seguidos de um período de três anos de liberdade supervisionada e pagamento de multa de US$ 146.984; foi uma sentença branda, pois Zhang poderia pegar até 10 anos de prisão e a multa poderia chegar a US$ 250 mil.
Quando na Apple, o criminoso trabalhou como engenheiro de hardware no Projeto Titan, que já dura uma década e pretende desenvolver veículos autônomos.
Zhang transferiu informações sobre o projeto da Apple à empresa chinesa XPeng Motors; além das informações, Zhang roubou placas e um servidor Linux dos laboratórios de desenvolvimento da empresa.
O engenheiro demitiu-se da Apple após uma licença paternidade e uma viagem à China, dizendo à fabricante do iPhone que iria trabalhar para a XPeng Motors. Isso desencadeou uma investigação, pois a Apple sabia que a XPeng também estava desenvolvendo tecnologia de direção autônoma.
Circuitos internos de vigilância mostraram Zhang retirando as placas e o servidor dos laboratórios da Apple e transferindo arquivos para o computador de sua esposa, o que fez com que a empresa levasse o assunto à polícia, dando início ao processo que culminou com a condenação.
Zhang foi preso em 2018 no Aeroporto Internacional de San Jose quando estava prestes a embarcar em um voo para a China. Inicialmente disse ser inocente, postura que conservou até 2022, quando passou a admitir ter cometido o crime.
Com relação ao projeto da Apple na área, parece ter havido uma mudança de planos: a empresa estaria agora desenvolvendo um veículo elétrico, não necessariamente autônomo, que não deve ser lançado antes de 2028.
Dependendo de quanto Zhang recebeu da XPeng, o crime pode ter compensado: ele tem até 19 de junho para se entregar e deverá cumprir sua pena em uma prisão de segurança mínima o mais próximo possível de sua casa em San Jose, na Califórnia.
Pensemos no que provavelmente teria acontecido a um estrangeiro que tivesse roubado segredos industriais de uma empresa na China...
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – vjnitz@gmail.com.