Argentina volta ao escambo
Vivaldo José Breternitz (*)
Há rumores de que a Huawei, grande fabricante chinesa de eletrônicos, se tornou a maior importadora de carne bovina do país, por estar recebendo esse produto de clientes argentinos, em pagamento de vendas efetuadas ao país vizinho.
A Huawei é mais do que apenas uma empresa de tecnologia. Já em 2019, a Reuters dizia que a gigante da área de eletrônicos "ainda possui elementos de uma empresa familiar, com membros da família de Ren Zhengfei, seu fundador e CEO, desempenhando papéis-chave em uma rede de negócios paralelos, muitos dos quais não têm nada a ver com telecomunicações".
Entre esses negócios paralelos, está sua subsidiária Shanghai Mossel Trade, que vende alimentos importados e sua própria marca de vinho. Na época, a Reuters disse que o presidente da Mossel era Ren Ping, filho de Ren Zhengfei. A CFO da Huawei, Meng Wanzhou, também era funcionária da Mossel.
A Huawei teria lançado a marca Mossel depois de receber carne e vinho de clientes argentinos como pagamento por peças e equipamentos de telefonia celular. Os clientes não conseguiram obter os fundos necessários em dólares americanos ou yuans chineses e pagaram com produtos de seu país.
As empresas de telecomunicações argentinas dispõem de pesos. A Huawei poderia aceitar essa moeda, mas a inflação extremamente alta impede que pesos sejam convertidos em outra moeda, tendo então optado por receber carne e vinho ao invés de abrir mão de seus negócios com a Argentina.
A carne pode não ter uma vida útil longa, mas aparentemente ainda é mais estável do que o peso argentino...
Quanto ao Brasil, é preciso cuidar para que não sigamos o mesmo caminho que vem sendo trilhado por nossos vizinhos.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.