A mídia na mão dos bilionários
Vivaldo José Breternitz (*)
O homem mais rico do mundo é dono do X. A família do segundo homem mais rico é dona da Paramount, que por sua vez é dona da rede de TV americana CBS, e que em breve poderá ser proprietária da Warner Bros, dona da CNN. O terceiro homem mais rico é dono do Facebook, Instagram e WhatsApp e o quarto homem mais rico é dono do Washington Post e da Amazon MGM Studios.
Quem traz essas informações é o jornal britânico The Guardian, que pergunta por que os bilionários estão comprando tantas empresas de mídia? O jornal também arrisca uma resposta: pode ser por vaidade, mas pode haver uma razão mais pragmática, que alguns diriam sinistra.
Ainda segundo o Guardian, se você é bilionário, talvez veja a democracia como uma ameaça potencial ao seu patrimônio. Controlar uma parte significativa do número cada vez menor de veículos de comunicação lhe permite, na prática, se proteger contra a democracia, suprimindo críticas a você e a outros plutocratas, desincentivando qualquer tentativa de, por exemplo, tributar sua riqueza.
Isso fica claro se considerarmos o caso de Donald Trump, que tem usado, de forma escancarada, o poder da presidência dos Estados Unidos para punir seus inimigos e recompensar aqueles que o elogiam e lhe trazem lucros, como é o caso do Washington Post, que aplaudiu a decisão do Departamento de Defesa de Trump de adquirir uma nova geração de reatores nucleares menores, mas não mencionou a participação da Amazon na empresa que desenvolve esses reatores.
O jornal também criticou a recusa da cidade de Washington DC em permitir carros autônomos, sem revelar que era a empresa de veículos autônomos da Amazon que tentava entrar nesse mercado.
A situação é semelhante com a família de Larry Ellison, fundador da Oracle e o segundo homem mais rico do mundo, controlador da rede CBS. Ellison é um doador de longa data de Trump e teria discutido formas de contestar sua derrota nas eleições de 2020.
Em junho de 2025, Ellison e a Oracle estiveram entre os patrocinadores de um espetacular desfile militar idealizado por Trump em Washington. Na época, Larry e seu filho David, fundador da Skydance Media, aguardavam a aprovação da Comissão Federal de Comunicações (FCC) para a sua fusão com a Paramount Global, proprietária da CBS News, um negócio estimado em US$ 8 bilhões.
Em julho, a CBS encerrou o programa “Late Show” do apresentado Stephen Colbert, um crítico de Trump; logo em seguida, Brendan Carr, aliado de Trump e presidente da FCC, aprovou o negócio dos Ellison.
É impossível saber até que ponto as críticas a Trump e ao seu governo foram abafadas pelos bilionários donos de mídia, ou que tipo de cobertura bajulatória tem sido produzida, mas é claro que bilionários como Musk, Bezos, Ellison e outros são, antes de tudo, homens de negócios. Seu maior objetivo não é informar o público, mas ganhar dinheiro. Eles sabem que Trump pode devastar seus negócios impondo decisões desfavoráveis da FCC, aplicando com rigor leis trabalhistas e usando outras armas que o cargo lhe permite utilizar
E, numa era em que a riqueza está concentrada nas mãos de poucos indivíduos que compraram peças-chave da mídia, cresce o perigo de que o público não receba a verdade de que precisa – vale lembrar o que diz o slogan do Washington Post: a democracia morre na escuridão.
O assunto merece nossa reflexão, especialmente porque aqui no Brasil a situação não é muito diferente. É oportuno lembrar o caráter (falta de) de Assis Chateaubriand, que a partir dos anos 1930 construiu um império midiático, os Diários Associados, utilizado para satisfazer seus interesses pessoais - felizmente o tempo encarregou-se de destruir os Diários, o que fez um bem enorme para o Brasil.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – vjnitz@gmail.com.