Mudanças climáticas fazem turbulências cada vez mais frequentes
Vivaldo José Breternitz (*)
Em 20 de maio uma forte turbulência atingiu um avião da Singapore Airlines que ia de Londres para Singapura, matando uma pessoa e ferindo mais de setenta.
O incidente, embora raro, está levantando questionamentos, havendo suspeitas (quase certezas) de que as mudanças climáticas irão tornar mais fortes e frequentes fatos como esses.
O avião sofreu uma queda repentina de cerca de 1.800 metros, que lançou pessoas e objetos em direção ao teto da cabine. A maioria dos voos experimenta algum nível de turbulência: perto do solo, ventos fortes podem causar turbulência durante a decolagem ou o pouso. Em altitudes mais elevadas, fluxos de ar ascendentes e descendentes podem causar turbulência de diversas intensidades à medida em que os aviões voam através ou perto delas – quando elas ocorrem fora das nuvens, são chamadas “turbulência de céu claro".
Pode levar algum tempo para que se descubra que tipo de turbulência causou o incidente da Singapore Airlines; pesquisadores dizem que havia uma tempestade por perto, mas as condições também eram favoráveis para turbulência de céu claro.
As mudanças climáticas estão tornando as turbulências mais frequentes e severas, diz o pesquisador Jung-Hoon Kim da Universidade Nacional de Seul. Já uma equipe da universidade britânica de Reading, coordenada pelo professor Paul Williams identificou que nos últimos 30 anos houve um aumento de 55% no número de turbulências de céu claro sobre o Atlântico Norte.
Acredita-se que aumentos semelhantes vêm sendo observados em todo o mundo, quase que certamente em função das mudanças climáticas, que estão fortalecendo as correntes de jato causadoras de turbulência. Correntes de jato são fluxos de ar intensos que se formam na troposfera, a camada mais alta da atmosfera terrestre; esses fluxos podem atingir 400 km/h e podem se estender por grandes distâncias e inclusive acontecer em altitudes relativamente baixas.
Em outro estudo, Williams e seus colegas concluíram que as turbulências de céu claro se tornam mais severas e frequentes à medida em que as temperaturas se elevam. Kim e seus colegas chegaram à mesma conclusão.
Os pilotos usam projeções de turbulência para planejar rotas. Centros meteorológicos podem prever turbulência com base em dados coletados por sensores terrestres e satélites e comunicar previsões aos pilotos. No avião, os pilotos usam radar para identificar nuvens de tempestade e evitá-las.
Mas o radar não pode detectar turbulência de céu claro, o que outra tecnologia, a LIDAR (Light Detection and Ranging) consegue fazer. Infelizmente essa tecnologia ainda é muito cara e os equipamentos que a compõem são muito grandes e pesados, inviabilizando por enquanto seu uso na aviação comercial.
A expectativa é que sua miniaturização e redução de custos torne padrão o uso dessa tecnologia; por enquanto, vamos manter os cintos apertados...
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – vjnitz@gmail.com.