IA faz diminuir oportunidades para jovens profissionais de TI
Vivaldo José Breternitz (*)
Pesquisas da Stanford University apontam queda no número de oportunidades para profissionais de TI em início de carreira.
Os resultados dessa pesquisa confirmam percepções de pessoas que atuam na área, no sentido de que, ao imenso aumento de vagas para esse pessoal ocorrido durante a pandemia, segue-se um período de contração, devido especialmente à chegada ao mercado de ferramentas de inteligência artificial, a mais famosa das quais, o ChatGPT foi lançada no final de 2022.
A pesquisa utilizou dados fornecidos pela ADP, empresa especializada em processamento de folhas de pagamento; foram considerados dados de milhões de trabalhadores, de milhares de empresas. Apesar de as pesquisas terem sido focadas no mercado americano, é lícito concluir que o cenário brasileiro é bastante similar.
Os pesquisadores também recorreram ao Anthropic Economic Index, criado em fevereiro pela Anthropic, empresa que também atua na área de IA. O índice registra como profissionais de diferentes áreas utilizam o chatbot Claude no trabalho e indica quais tarefas estão sendo automatizadas.
De acordo com as pesquisas, os setores mais expostos à automação por inteligência artificial são desenvolvimento de software, atendimento ao cliente, contabilidade e suporte administrativo. Entre trabalhadores de 22 a 25 anos nessas áreas, as vagas de entrada caíram 6% desde o lançamento do ChatGPT.
No desenvolvimento de software, a redução foi mais acentuada: há 20% menos postos de nível inicial ocupados por jovens nessa faixa etária em comparação com 2022.
Os autores avaliaram se outros fatores, como mudanças econômicas ou choques em setores específicos, poderiam explicar a redução. A conclusão foi que a automação impulsionada pela inteligência artificial está entre as principais causas da queda.
O estudo aponta ainda que trabalhadores mais experientes foram menos impactados. Entre eles, houve aumento entre 6% e 9% no número de empregados nos quatro setores mais expostos à automação desde 2022.
Em áreas com menor risco de substituição por inteligência artificial, como manutenção, enfermagem e logística, houve crescimento de 6% a 13% nas vagas para jovens de 22 a 25 anos.
Segundo os pesquisadores, os resultados mostram que o impacto da inteligência artificial varia conforme a área de atuação: em alguns setores, a tecnologia tende a substituir tarefas, enquanto em outros desempenha papel de apoio ao trabalho humano.
Acreditamos ser urgente que nossas universidades e escolas técnicas revisem seus currículos no sentido de preparar seus egressos para essa nova realidade; infelizmente, nossa percepção é de que isso vem ocorrendo de forma extremamente lenta.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor e consultor – vjnitz@gmail.com.
