A gestão de uma empresa, especialmente em fases de crescimento acelerado, é um reflexo direto do autoconhecimento do líder.
Desde Sócrates, há mais de 400 anos A.C., conhecer-se é o ponto de partida para a construção de uma vida virtuosa. Nesse período, os romanos conheceram o estoicismo, uma filosofia na qual a autoconsciência era pré-requisito.
O imperador Marco Aurélio, por exemplo, grande defensor do tema para uma existência mais equilibrada e, por consequência, mais autêntica e feliz, questionava-se regularmente ao longo do dia para examinar o seu próprio caráter e ações:
- “Estou me comportando como uma criança, um tirano, uma ovelha, um lobo, ou estou cumprindo meu verdadeiro potencial como um ser racional?
- Que uso estou fazendo agora da minha alma?
- Com que finalidade estou usando minha mente atualmente?
- Estou sendo tolo?
- Estou alienado outras pessoas?
- Estou me deixando arrastar para fora do curso pelo medo e pelo desejo?
- Que paixões existem agora em minha mente?”
Sempre fui empreendedor. Desde os 14 anos, tenho administrado o meu próprio negócio - mesmo quando a empresa não era minha.
Como valet, segurança, entregador de panfletos… sempre soube que, por mais que eu tivesse largado para trás, ainda poderia chegar na frente.
Compreender e aceitar as minhas vulnerabilidades me permitiu enfrentar esse gap com uma postura antifrágil, aprendendo e crescendo com cada experiência.
E foi assim que, fazendo somente aquilo que já funciona desde a Antiguidade e sem reinventar a roda, tive o privilégio de receber o maior series A da história do país na fase inicial da Easy Taxi.
Por que a gestão começa com você?
Claro que nem sempre foi assim. Comecei muito novo e sem experiência. Como founder de primeira viagem, durante muito tempo vivi no autoengano e sucumbi ao conto do workaholic, perdendo o meu tempo em atividades que não me faziam performar melhor. Trabalhava muito, mas rendia pouco.
Quando a ficha caiu, eu já não estava mais produtivo como antes e a minha saúde estava em frangalhos. Com o tempo, percebi que não bastava ser um empreendedor; eu precisava ser um gestor de mim mesmo. E eu não era o único.
Um estudo científico em larga escala com 5.000 participantes divulgado pela Harvard Business Review concluiu que, embora a maioria das pessoas acredite que são autoconscientes, apenas 10% a 15% realmente atendiam a esses critérios.
De fato, a maior parte das pessoas gostam de se autossabotar, dar aquelas pequenas desculpas para não levantar cedo na segunda-feira cedo ou para encurtar a sexta.
Além disso, de acordo com a Dra. Tasha Eurich, a autoconsciência pode ser subdividida em interna (a forma como nos vemos e como nos encaixamos no ambiente) e externa (a compreensão de como os outros nos veem). E, com muita frequência, focamos apenas nesta última e agimos de forma inadequada devido à pressão de outros, dinheiro, nossa reputação ou outros fatores.
Infelizmente, a falta de autoconsciência nos negócios raramente é discutida. Confesso que um momento game changer na minha forma de aprender a ter disciplina, produzir melhor e criar os alicerces para ser verdadeiramente quem eu era, foi a leitura do livro “Can’t hurt” do David Goggins - o único membro das Forças Armadas dos EUA a completar o treinamento de elite dos SEALs, dos Rangers e da Força Aérea.
Vendo a sua trajetória, eu sabia que podia trazer aquele mindset para a minha realidade. A partir daí, toda performance e qualidade de entrega viraram efeito colateral do meu hábito de testar meus limites saudáveis.
Claro, o Jiu-Jitsu e a terapia também foram partes fundamentais desse processo e me ensinaram a ter mais cadência, confiança, lidar melhor com a adrenalina e os ups and downs não apenas no tatame, mas também na sala de reuniões.
Sem dúvidas, o primeiro passo para a autenticidade e a liderança genuína, é concentrar-se em si mesmo. Somente a maturidade dessa escolha te permite ter slots inegociáveis na agenda para treinar, estudar, comer bem, priorizar onde vai investir sua energia de maneira inteligente…
É o que a escola aristotélica chamava de desenvolvimento do saber (conhecimento técnico), da alma (sou eu) e do corpo.
Mais que isso, conhecer minhas próprias tendências comportamentais e reações sob pressão, entender meus gatilhos emocionais e cognitivos tem sido crucial para evitar armadilhas comuns como o viés de confirmação e o apetite ao risco.
Para traduzir isso para a sua realidade, é importante entender a sua natureza e não ir contra ela. Não seja definido pelo que os outros querem que você seja, mas por quem você é. No fim, a autoconsciência está intimamente ligada à mentalidade de growth hacking, já que o objetivo é manter os seus esforços naquelas alavancas em que você realmente pode fazer a diferença.
Integrando o autoconhecimento à cultura corporativa
Integrar o autoconhecimento à cultura corporativa é um processo que começa no topo. Gestores que se conhecem são capazes de identificar e potencializar talentos dentro de suas equipes, delegar com confiança e, muito menos, comunicar-se de maneira clara e efetiva.
Como líder, você deve primeiro praticar o autoconhecimento e, em seguida, encorajar e facilitar para que sua equipe faça o mesmo.
Se você não vive os valores que prega, sua equipe não os seguirá. A transparência radical, um valor que tanto prezamos no G4 Educação, começa justamente dessa honestidade comigo mesmo que se estendeu à cultura organizacional. Aqui, jogamos o jogo abertamente. Sempre.
Por isso, o autoconhecimento não é um traço fixo que você tem ou não tem. É uma habilidade que se pode desenvolver e melhorar internamente, com a sua equipe, clientes, mentores, colegas ou especialistas.
E essa diferença entre como nos vemos e como as outras pessoas nos veem é um dos melhores guidelines que podemos ter, já que existe uma relação inversamente proporcional entre autoconsciência e poder.
Quanto maior a sua posição dentro de uma organização, menos as pessoas estarão dispostas ou serão corajosas o suficiente para te falar sinceramente sobre os impactos do seu comportamento.
A clareza de que, mesmo com a melhor das intenções, podemos causar danos, apesar do desejo genuíno de não o fazer, nos mantém na rota.
Hoje, dominar meus pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças, faz parte da composição da minha vida profissional para que eu consiga entregar valor para a companhia e liberar todo o potencial humano da organização. E está funcionando.
Em 4 anos de operação, crescemos exponencialmente, formamos mais de 45 mil gestores, geramos mais de 350 mil empregos através de nossos alunos e alcançamos o valuation de R$ 1,2 bilhão com faturamento recorde.
Portanto, conhecer a si mesmo não é luxo, mas uma valiosa ferramenta de gestão e uma necessidade para quem busca excelência, inovação e sustentabilidade nos negócios.
fonte: Brasil Paralelo