Os dados mais recentes divulgados pela Serasa Experian, e publicados pelo Estadão, revelam um quadro que considero extremamente preocupante para a economia brasileira: o país chegou a 8,7 milhões de empresas inadimplentes, o maior número da série histórica iniciada em 2016. Estamos falando de um estoque de dívidas que já alcança R$ 204,8 bilhões.
Na prática, isso significa que milhões de negócios operam hoje com pelo menos um compromisso vencido e não pago. Mais do que um número frio, esse dado expõe uma fragilidade estrutural do ambiente econômico, especialmente para micro, pequenas e médias empresas, que representam a esmagadora maioria dos inadimplentes.
Segundo a pesquisa, cerca de 54,9% das empresas inadimplentes pertencem ao setor de serviços, seguido pelo comércio (33%) e pela indústria (8%). Esse recorte setorial ajuda a entender o problema: são justamente os segmentos mais sensíveis à retração do consumo, ao crédito caro e à instabilidade econômica.
Quando olho para esses números, fica claro que o problema não é apenas a dívida em si, mas o contexto que a alimenta. A combinação de juros elevados, desaceleração do crédito e incertezas econômicas internas e externas reduz drasticamente a capacidade das empresas de renegociar obrigações, reorganizar o caixa e manter suas operações de forma sustentável.
Outro ponto que chama atenção é o valor médio das dívidas, que chegou a aproximadamente R$ 23,6 mil por empresa, com cada negócio acumulando, em média, mais de sete contas em atraso. Isso indica não um problema pontual, mas um acúmulo progressivo de dificuldades financeiras.
Do ponto de vista regional, o cenário também é revelador. A Região Sudeste concentra a maior parte das empresas inadimplentes, com destaque para São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Isso não ocorre por acaso: trata-se da região mais industrializada e economicamente ativa do país, mas também a mais exposta aos efeitos de ciclos econômicos negativos, retração de investimentos e custos financeiros elevados.
Vale destacar que mais de 8,2 milhões das empresas inadimplentes são micro, pequenas e médias, responsáveis por grande parte da geração de empregos no Brasil. Quando essas empresas entram em dificuldade, o impacto vai muito além do balanço financeiro: afeta empregos, renda, consumo e, em última instância, o crescimento econômico.
Enquanto empresas de maior porte tendem a ter mais estrutura financeira para atravessar períodos adversos — acesso a crédito, reservas de caixa e maior capacidade de renegociação —, os pequenos negócios sentem os efeitos quase que imediatamente. É justamente nesse ponto que a inadimplência deixa de ser apenas um indicador econômico e passa a ser um sinal de alerta social.
Na minha avaliação, os dados da Serasa Experian mostram que o Brasil vive um ambiente pouco favorável ao empreendedorismo produtivo, especialmente para quem depende de capital de giro, crédito bancário e previsibilidade econômica. Sem uma melhora consistente no ambiente macroeconômico, no custo do crédito e nas condições de financiamento, esse número tende a permanecer elevado — ou até crescer.
Mais do que nunca, essa situação exige políticas econômicas que olhem para a sustentabilidade dos negócios, incentivo à renegociação estruturada de dívidas, acesso responsável ao crédito e um ambiente institucional mais estável. Caso contrário, a inadimplência recorde deixa de ser exceção e passa a se consolidar como regra.
FULVIO CRISTOFOLI - EDUCA WEB RADIO
Fonte: Serasa Experian, com dados divulgados pelo Estadão (dezembro de 2025).