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CEO da Nvidia diz que IA trará grandes benefícios e problemas
Por Vivaldo José Breternitz
Publicado em 31/07/2025 18:19 • Atualizado 31/07/2025 18:20
Ciência & Tecnologia

CEO da Nvidia diz que IA trará grandes benefícios e problemas

Vivaldo José Breternitz (*)

Recentemente, a Nvidia se tornou a primeira empresa da história a atingir o valor de mercado de US$ 4 trilhões. Um número colossal, próximo ao do PIB da Alemanha, cerca de US$ 4,5 trilhões e quase o dobro do PIB brasileiro, cerca de US$ 2,18 trilhões.

Enquanto Wall Street comemora, o resto do mundo pergunta: o que isso significa? Segundo Jensen Huang, CEO Nvidia, não se trata apenas de números na bolsa. O que está em jogo, afirma, é uma reconfiguração profunda da sociedade.

A razão por trás da importância da Nvidia é direta: a empresa fabrica os “cérebros” da inteligência artificial. Seus chips avançados — as GPUs — são os motores por trás de sistemas como o ChatGPT e dos modelos mais sofisticados desenvolvidos por gigantes como Google e Microsoft. Pode-se dizer que, em meio à corrida global pelo ouro da IA, a Nvidia é quem vende as pás e picaretas - e isso a tornou a empresa mais poderosa do planeta.

Em entrevista à CNN, Huang falou sobre como a era da IA, impulsionada por seus chips, afetará a vida das pessoas comuns, e não dourou a pílula. “Todos os empregos serão afetados. Alguns serão perdidos”, afirmou. Parte das funções desaparecerá, outras serão transformadas. A esperança, segundo ele, é que a produtividade aumente a tal ponto que a sociedade se torne mais rica como um todo, apesar das dores trazidas pelo processo.

O impacto será significativo. Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial revelou que 41% dos empregadores pretendem reduzir sua força de trabalho até 2030 por conta da IA. Na própria Nvidia, o uso da tecnologia não é apenas incentivado — é obrigatório.

Huang defende que o futuro da IA depende da capacidade dos Estados Unidos de voltarem a produzir. Surpreendentemente, endossou os esforços da era Trump para reindustrializar o país, dizendo que esses esforços são uma necessidade econômica. “A paixão, o talento, a habilidade de fabricar coisas têm valor. Elas sustentam uma sociedade estável, com carreiras dignas”, afirmou.

Para ele, trazer a produção de volta àquele país fortalece a segurança nacional, reduz a dependência de fabricantes estrangeiros como a taiwanesa TSMC e abre empregos bem pagos para pessoas sem formação superior. É um raro ponto de convergência entre o Vale do Silício e o movimento “America First” de Trump.

Em sua previsão mais otimista, Huang aposta que a IA revolucionará a medicina, acelerando a descoberta de remédios e ajudando cientistas a curar doenças. “Com o tempo, teremos assistentes virtuais que atuarão como pesquisadores e cientistas”, disse.

E não é só na medicina: segundo Huang, robôs físicos inteligentes, chamados por ele de modelos VLA, de visão-linguagem-ação, devem se tornar comuns entre três e cinco anos a contar de agora. Eles serão capazes de enxergar, compreender comandos e agir no mundo real.

Mas Huang não ignorou os riscos. Questionado sobre casos como o do chatbot Grok, de Elon Musk, que divulgou conteúdo antissemita, ele reconheceu: “Alguns danos acontecerão”. Ainda assim, pediu paciência: ferramentas de segurança estão melhorando, e muitos modelos já utilizam outras IAs para checar suas respostas.

Seu recado final é claro: a IA trará benefícios imensos, embora o processo seja turbulento e dolorido.

Porém, o que Huang não disse também fala alto: todas as transformações que ele descreve passam pela Nvidia. A empresa fabrica os chips, dita o ritmo e, agora, com US$ 4 trilhões, tem o poder de moldar a era da IA a seu favor.

É um roteiro conhecido. As big techs prometem utopias, controlam a infraestrutura e decidem quem terá acesso - e a que custo. De centros de distribuição da Amazon aos algoritmos do Facebook, o padrão se repete: consolidação, disrupção e controle.

Huang admite: haverá danos. E a história mostra que, quando empresas prometem consertar o mundo com tecnologia, os prejuízos quase sempre recaem sobre os mesmos de sempre.

(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor e consultor – vjnitz@gmail.com.

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